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Cérebro e ritmos interoceptivos

 

    Os ritmos cerebrais interoceptivos se caracterizam pela  percepção e processamento das sensações internas do corpo. Esses ritmos estão intimamente relacionados à interocepção, que é a capacidade do cérebro de detectar e interpretar sinais provenientes de órgãos internos, como batimentos cardíacos, respiração, fome e sede. Essa percepção interna desempenha um papel crítico na regulação do estado emocional, comportamento e na tomada de decisões dos indivíduos. Aqui vamos discutir como os fatores neurofisiológicos funcionam associados a esse ritmo. 

 
     A função geral da interocepção é processar parâmetros corporais internos, para manter o organismo vivo, regulando (homeostase) e antecipando (alostase) as necessidades corporais, num ciclo de percepção interoceptiva – controle interoceptivo análogo ao ciclo exteroceptivo de percepção-cognição-ação. A exterocepção é onde os estímulos são recebidos pelos receptores externos do indivíduo, ou seja, os órgãos dos sentidos. São sensações em nível tátil, auditivo, gustativo, olfativo ou visual. Porém, as alças interoceptivas e exteroceptivas não devem ser consideradas isoladamente: a interocepção está fortemente entrelaçada com o processamento do ambiente externo, interagindo com todas as etapas da alça exteroceptiva. As vias interoceptivas centrais começam com quimiorreceptores, termorreceptores e mecanorreceptores dentro do corpo. A informação periférica é transmitida ao SNC através dos nervos cranianos, incluindo os nervos vago e glossofaríngeo, e nervos sensoriais viscerais, como os nervos esplâncnico, frênico e cardíaco, que viajam através da medula espinhal (Figura abaixo). Ambas as vias têm como alvo os principais relés interoceptivos no tronco cerebral, o núcleo do trato solitário 7 (NTS) e o núcleo parabraquial 8 (PBN). Esses núcleos se projetam, por sua vez, para outras estruturas subcorticais, incluindo o hipotálamo, a amígdala e, direta ou indiretamente, para os núcleos neuromoduladores, bem como para vários núcleos do tálamo, núcleos ventroposteriores mediais e laterais, mas também para o núcleo paraventricular . Os principais alvos corticais conhecidos são a ínsula granular posterior, que possui organização viscerotópica, bem como as áreas motoras cinguladas e os córtices somatossensoriais.

 


Fonte: adaptada de Engelen et. al. (2023)
 
     A pesquisa nesse campo também examina como os ritmos interoceptivos estão relacionados a condições de saúde mental. Por exemplo, a disfunção na percepção interoceptiva pode estar associada a distúrbios como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. Estudos neurofisiológicos e psicológicos têm explorado como essas condições podem estar ligadas a uma regulação anormal dos ritmos interoceptivos. Além disso, a plasticidade cerebral desempenha um papel importante na adaptação dos ritmos interoceptivos. A prática de técnicas de atenção plena (mindfulness), por exemplo, tem sido associada a mudanças na percepção interoceptiva e na atividade cerebral relacionada. Isso sugere que é possível modular esses ritmos por meio de intervenções comportamentais.
 
     Apesar de todos esses conhecimentos sobre o ritmos cerebrais, é imprescindível que mais estudos relacionados com ferramentas (como mindfulness) que podem modular esses ritmos. Compreender como o cérebro processa a partir de sua atividade (EEG/NIRS) e utiliza as informações internas do corpo pode ter implicações significativas na compreensão de uma variedade de condições de saúde mental e no desenvolvimento de intervenções terapêuticas.



Referências:
 
Engelen, Tahnée, Marco Solcà, and Catherine Tallon-Baudry. "Interoceptive rhythms in the brain." Nature Neuroscience (2023): 1-15.
 
Critchley, H. D., Wiens, S., Rotshtein, P., Öhman, A., & Dolan, R. J. (2004). Neural systems supporting interoceptive awareness. Nature Neuroscience, 7(2), 189-195.
 
Paulus, M. P., & Stein, M. B. (2010). Interoception in anxiety and depression. Brain Structure and Function, 214(5-6), 451-463.
 
Farb, N. A., Segal, Z. V., Mayberg, H., Bean, J., McKeon, D., Fatima, Z., ... & Anderson, A. K. (2007). Attending to the present: mindfulness meditation reveals distinct neural modes of self-reference. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2(4), 313-322.
 


Rodrigo Oliveira

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