Não é novidade para ninguém que o consumo de material sexual só tem aumentado nos últimos anos. Isso pode ser devido ao aumento do acesso às tecnologias e à internet. No Brasil, cerca de 22 milhões de pessoas assumem consumir pornografia, sendo que 76% destes são homens [1]. Por outro lado, ao passo que o consumo de material pornográfico cresce, o número de pesquisas que mostram disfunções cerebrais causadas pelo vício neste tipo de material também tem crescido.
Um dos artigos que mostra os efeitos de material adulto no cérebro foi publicado em 2015 na revista científica Biological Psychology [2]. Os pesquisadores recrutaram um total de 122 voluntários que, após, responderem um questionário, foram divididos em grupos de acordo com o nível de vício em pornografia. Foram formados então o grupo de voluntários sem problemas causados pela pornografia, e um segundo grupo de voluntários classificados como “hipersexuais”, que consumiam aproximadamente 4 horas de conteúdo adulto por semana.
Após o agrupamento, todos os voluntários passaram por uma bateria de avaliação da atividade cerebral com o eletroencefalografia. Durante o registro da atividade cerebral os voluntários viam imagens de quatro estilos: desagradáveis, agradáveis não sexuais, sexuais e neutras. Como a atividade elétrica do cérebro dos voluntários estava sendo registrada durante a visualização de um banco de imagens das quatro classes citadas anteriormente, os cientistas mediram uma atividade cerebral específica chamada de Potencial Positivo Tardio (Late Positive Potential).
Na figura abaixo, podemos observar o potencial de positividade tardio para uma pessoa que não possui problemas com pornografia, mostrando um aumento na positividade tardia (quadrado em vermelho) durante a visualização de imagens sexuais. É importante notar que o Potencial Positivo Tardio mensura os níveis de resposta emocional, e portanto, revela como está a capacidade de um indivíduo responder a algum estímulo emocional. Os resultados observados no grupo de voluntários com vício em pornografia são impressionantes e serão mostrados abaixo.
Os resultados do estudo mostram que os voluntários viciados em pornografia exibiram uma menor Potencial Positivo Tardio, mostrando que a exposição contínua que gera vícios pode levar a uma redução na capacidade destes sujeitos em responder a estímulos emocionais. Além da redução no Potencial Positivo Tardio, os resultados mostram que a resposta emocional à pornografia foi simular as demais imagens no grupo de viciados. É como se o cérebro não discriminasse mais o que é pornográfico ou não, já que exibe a mesma resposta. Agora você pode se perguntar, se a pornografia é considerada um vício, tal redução também é observada em outros vícios? A resposta que os pesquisadores mostram é negativa, uma vez que a resposta do Potencial Positivo Tardio diminuída é inconsistente com outros modelos de vício, como o abuso de drogas ilícitas ou álcool, por exemplo.
Abaixo é ilustrado a resposta do Potencial Positivo Tardio entre os grupos e um vídeo educativo sobre o assunto.
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[2] - Prause, N., Steele, V. R., Staley, C., Sabatinelli, D., & Hajcak, G. (2015). Modulation of late positive potentials by sexual images in problem users and controls inconsistent with “porn addiction”. Biological psychology, 109, 192-199.