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A atenção é um processo cognitivo, ou função cerebral que tem como principal função alocar o processamento cognitivo em direção a um estímulo, seja ele de ordem visual, auditiva, ou relacionado a algum outro sentido. Ou seja, a atenção direciona qual informação é mais relevante dentre os diversos inputs sensoriais que ocorrem ao mesmo tempo do estímulo.


Sendo assim, a atenção é a habilidade de manter os processos mentais focados algo que estamos observando ou ouvindo, por exemplo. Com relação ao tempo em que podemos nos manter em estado atencional, podemos manter este estado por um período momentâneo (imagine que você está dirigindo e o veículo ao lado buzina subitamente para evitar um acidente, este momento em que somente a buzina está como preferência cognitiva é definido como atenção momentânea) ou por um período sustentado (quando ficamos horas jogando vídeo game ou escrevendo um artigo, por exemplo).


Apesar da atenção ser um processo cognitivo complexo que demanda a estruturação ordenada de diversas áreas cerebrais direcionadas a entender e manter este processamento por um certo período determinado, também é um processo filogenético importante para a evolução das espécies, reprodução e obtenção de alimento. O processo mais básico de realocação de processamento neural (ou seja, atencional) é observado em uma reação de luta ou fuga, por exemplo. Quando estamos diante de um evento ameaçador, a grande maioria das nossas faculdades mentais são direcionadas a tais estímulos (Figura 1) para podermos realizar uma ação de luta ou fuga. Se a reação de luta ou fuga é observada na grande maioria dos organismos, sejam eles “racionais” ou não, podemos inferir que a atenção está presente filogeneticamente em diversos organismos, e que este processo não é exclusivamente dos organismos “racionais” ou humanos.



Figura 1 - Ilustração de uma situação de luta ou fuga.


Neste sentido, a grande maioria das atividades diárias pode ser mediada por processos atencionais. Para entender melhor como isso ocorre, precisamos explicar os principais tipos de atenção. Para tal, podemos definir quatro tipos de atenção, que são elas: atenção sustentada, seletiva, alternada e dividida.


  • Atenção sustentada: ocorre quando possuímos a habilidade de focar e direcionar grande parte do processamento cognitivo para uma tarefa contínua por um grande período de tempo sem ser distraído [1, 2]. É um dos elementos primários dos processos atencionais, é neste tipo que somos capazes de realizar tarefas por grandes períodos de tempo.

  • Atenção seletiva: subtipo atencional no qual somos capazes de selecionar, a partir de diversos fatores e características de um estímulo e focar em apenas um fator de interesse. Este processo ocorre concomitante com a filtragem de partes não focadas do estímulo (Figura 2). Em outras palavras, a atenção seletiva permite a escolha no estímulo que queremos prestar atenção.

  • Atenção alternada: habilidade de mudar o foco atencional entre diferentes tarefas ou partes do estímulo. Neste tipo de atenção precisamos de diferentes demandas cognitivas, como tomada de decisão (colocar link para tomada de decisão) por exemplo.

  • Atenção dividida: capacidade na qual somos capazes de processar duas ou mais características do estímulo ao mesmo tempo. Ultimamente também passou a ser conhecida como habilidade multitarefa.

Figura 2 - Ilustração de uma possível cena visual com diferentes possíveis focos (em amarelo). O papel da atenção seletiva aqui é direcionar o foco para apenas um dos possíveis focos, ignorando automaticamente os demais. 

Neste sentido, a investigação acerca dos mecanismos e vias cerebrais responsáveis pelos quatro principais subtipos atencionais teve início há várias décadas. Inicialmente os estudos eram em sua maioria empíricos, onde os pesquisadores discutiam os resultados com base e através de respostas orais e escritas dos participantes da pesquisa [3]. Porém, com o avanço das neurociências e das técnicas de neuroimagem e de tempo de resposta, a investigação acerca dos mecanismos para cada tipo atencional tomou um outro rumo. Teve início, portanto, a descrição das áreas cerebrais que, teoricamente, coordenam o processamento das atenções.


Como foi inicialmente hipotetizado, estudos indicam que o algumas áreas do córtex parietal estão envolvidos nos processos atencionais [4-7]. O córtex parietal é uma região do córtex bastante conhecida como área associativa, principalmente entre os sentidos. Métodos quantitativos já mensuraram o papel desta área na fisiologia dos mecanismos atencionais, como os Potenciais Relacionados a Evento (do inglês Event-related Potential (ERP)). Um dos ERP’s que parecem ser um biomarcador para a atenção é o P300, como descrito em estudos prévios [8-11].


Com destaque para a atenção seletiva, que parece ser um dos principais tipos de amplificadores de sincronização ou recrutamento das áreas relacionadas a este subtipo atencional. Um estudo clássico que mensura o tempo de reação para atenção seletiva é o experimento da tarefa de escuta dicótica (do inglês Dichotic Listening Task). Neste experimento, é colocado um fone de ouvido no participante, seguido das instruções. O participante irá ouvir duas frases diferentes, uma em cada ouvido, e deverá repetir oralmente a frase indicada pelo pesquisador (Figura 3) [12, 13]. Este é um experimento clássico de atenção seletiva que tem sido utilizado por pelo menos sete décadas.


Figura 3 - Esquema do experimento da tarefa de escuta dicótica.


 


Outra evidência que mostra o papel da atenção seletiva na amplificação de sinal para o estímulo escolhido para o foco é ilustrado no vídeo abaixo. No vídeo, é colocado uma touca com eletrodos de EEG na cabeça do participante que passa por uma sessão de experimento parecida com a proposta pela tarefa de escuta dicótica. O participante ouvia duas vozes vindo de duas caixa de som, e quando este focava em uma voz, havia uma atenuação na voz não focada e uma amplificação na voz focada. O direcionamento da voz foi dado pelo experimentador que indicava o lado com um bastão. 


Apesar da atenção seletiva ser capaz de direcionar e amplificar o estímulo em foco, os outros estímulos que estão sendo atenuados não deixam de ser processados. Utilizando a tarefa de escuta dicótica, Treisman (1964) demonstrou que os participantes se mantiveram capazes de discriminar e identificar a mensagem (ou voz) atenuada. Ele propôs um modelo para a atenção seletiva com relação a amplificação e atenuação dos estímulos em foco (Figura 4). 

treisman attenuaton model of attentionFigura 4 - Modelo de atenção seletiva relacionado à atuenuação. O sinal sonoro dos dois ouvidos é processado e a atenção seletiva atenua o estímulo que não está em foco, bem como amplifica o estímulo focado. 




Referências

[1] - Pardo, J. V., Fox, P. T., & Raichle, M. E. (1991). Localization of a human system for sustained attention by positron emission tomography. Nature, 349(6304), 61.

[2] - Lahey, B. B., Pelham, W. E., Schaughency, E. A., Atkins, M. S., Murphy, H. A., Hynd, G., ... & Lorys-Vernon, A. (1988). Dimensions and types of attention deficit disorder. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 27(3), 330-335.

[3] - Duncan, J. (1984). Selective attention and the organization of visual information. Journal of Experimental Psychology: General, 113(4), 501.

[4] - Lamb, M. R., Robertson, L. C., & Knight, R. T. (1989). Attention and interference in the processing of global and local information: Effects of unilateral temporal-parietal junction lesions. Neuropsychologia, 27(4), 471-483.

[5] - Coull, J. T., Frith, C. D., Frackowiak, R. S. J., & Grasby, P. M. (1996). A fronto-parietal network for rapid visual information processing: a PET study of sustained attention and working memory. Neuropsychologia, 34(11), 1085-1095.

[6] - Chambers, C. D., Payne, J. M., Stokes, M. G., & Mattingley, J. B. (2004). Fast and slow parietal pathways mediate spatial attention. Nature neuroscience, 7(3), 217.

[7] - Ansari, D., Lyons, I. M., van Eimeren, L., & Xu, F. (2007). Linking visual attention and number processing in the brain: The role of the temporo-parietal junction in small and large symbolic and nonsymbolic number comparison. Journal of Cognitive Neuroscience, 19(11), 1845-1853.

[8] - Spencer, K. M., & Polich, J. (1999). Poststimulus EEG spectral analysis and P300: attention, task, and probability. Psychophysiology, 36(2), 220-232.

[9] - Gray, H. M., Ambady, N., Lowenthal, W. T., & Deldin, P. (2004). P300 as an index of attention to self-relevant stimuli. Journal of experimental social psychology, 40(2), 216-224.

[10] - Polich, J. (1986). Attention, probability, and task demands as determinants of P300 latency from auditory stimuli. Electroencephalography and clinical neurophysiology, 63(3), 251-259.

[11] - Brandeis, D., Banaschewski, T., Baving, L., Georgiewa, P., Blanz, B., Schmidt, M. H., ... & Scheuerpflug, P. (2002). Multicenter P300 brain mapping of impaired attention to cues in hyperkinetic children. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 41(8), 990-998.

[12] - Geffner, D. S., & Hochberg, I. (1971). Ear laterality performance of children from low and middle socioeconomic levels on a verbal dichotic listening task. Cortex, 7(2), 193-203.

[13] - Jäncke, L., Specht, K., Shah, J. N., & Hugdahl, K. (2003). Focused attention in a simple dichotic listening task: an fMRI experiment. Cognitive Brain Research, 16(2), 257-266.

 




Autor: Lucas Galdino Bandeira dos Santos
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