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Qual a diferença entre gostar e querer, no nosso cérebro?

 

Você sabe qual a diferença entre gostar e querer? Sabe como o nosso cérebro se comporta nessas situações?
 
Vamos imaginar a seguinte situação, uma pessoa se encontra num cassino  em Las Vegas numa máquina caça-níqueis pondo moedas e puxando a alavanca incessantemente. Em cassinos muita gente aparenta cansaço, tédio e muitas das vezes mal sorri com o ganho ocasional. Portanto, existe uma persistência compulsiva, porém pouco prazer. Nota-se que essa pessoa QUER, mas não GOSTA. Logo, “gostar” e “querer” são experiências distintas, tanto do ponto de vista comportamental quanto neurológico. Uma região no nosso cérebro chamada nucleus accumbens (NAc), localizada no fundo dos gânglios da base do subcórtex, possui um pequeno nó que ajuda a regular a sensação de gostar de alguma coisa e outro que regula a sensação de querer essa coisa [1]. Dessa forma, devemos entender a diferença entre os conceitos de “querer” e “gostar” e como o nosso cérebro funciona nessas situações.
 

Sobre o querer

 
“QUERER” significa ter o desejo ou a intenção de algo. Desse modo, o prazer se apresenta em processos neurais que ativam comportamentos do “querer” e o objeto do nosso desejo torna-se um estímulo predominante entre os outros estímulos. Sabe aquele “pensamento” que não conseguimos tirar da cabeça e, involuntariamente vem à tona? Esse comportamento depende principalmente da ativação do neuro-hormônio dopamina no sistema límbico [2].

No nosso cérebro, a amígdala é responsável por “querer”, e a estimulação hipotalâmica ocasiona um aumento tanto no “gostar” como no “querer” [3].


Sobre o gostar


“GOSTAR” pode ser definido como “achar agradável, sentir prazer em algo, amar, apreciar”. A região que é mais estudada para compreender sobre a sensação de “gostar”, até o momento, é o nucleus accumbens. Experimentos em animais indicaram aumento de duas/três vezes na sensação de “gostar” quando neurônios dessa região foram estimulados [4].


Como o nosso cérebro funciona quando queremos ou gostamos de algo?

O comportamento de “gostar” é diferente e independente daquele de “querer” [4]. É possível “querer” sem “gostar” e esse é exatamente o caso do comportamento de vício [2]. Pesquisas em seres humanos e em animais indicam que o gostar e querer são mediados por diferentes circuitos no encéfalo [5].



Estudos sobre o funcionamento cerebral indicam a existência de centros cerebrais que trabalham na forma de redes ativando neurotransmissores que controlam os eventos e estados de prazer [6]. Esses centros controlam o “gostar” e o “querer”, e cada um deles controla respostas neurais conscientes e inconscientes [2].



Uma das maneiras de analisar a atividade neural em redes e observar o que chamamos de conectividade cerebral, ou seja, como o nosso cérebro está conectado e como as áreas se comunicam entre si, é através da Eletroencefalografia (EEG). Logo, é possível mensurar atividade cerebral de indivíduos em determinadas situações, e assim, entender mais sobre as diferenças cerebrais entre o “gostar” e o “querer”.


Essa compreensão é extremamente relevante, pois como vimos, o nucleus accumbens possuí nós diferentes que são responsáveis por gostar e querer, e que configura a neuroanatomia funcional do prazer, que iremos discutir mais a fundo posteriormente.

 

Referências

[1] HANSON, Rick; HANSON, Forrest. O poder da resiliência. Rio de Janeiro: Sextante, 2019. 256 p.

[2] SAWAYA, Ana Lydia; FILGUEIRAS, Andrea. "Abra a felicidade"? Implicações para o vício alimentar. Estud. av.,  São Paulo , v. 27, n. 78, p. 53-70, 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000200005.

[3] PAVULURI, Mani et al. Nucleus Accumbens and Its Role in Reward and Emotional Circuitry: A Potential Hot Mess in Substance Use and Emotional Disorders. Aims Neuroscience, [s.l.], v. 4, n. 1, p.52-70, 2017. American Institute of Mathematical Sciences (AIMS). http://dx.doi.org/10.3934/neuroscience.2017.1.52.

[4] BERRIDGE, K. C. The debate over dopamine’s role in reward: the case for incentive salience. Psychopharmacology, v.191, n.3, p.391-431, 2007.

[5] BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

[6] KRINGELBACH, M. L.; BERRIDGE, K. C. Towards a functional neuroanatomy of pleasure and happiness. Trends. Cogn. Sci., v.13, n.11, p.479-87, 2009.



Autor: Eric Rodrigues
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