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A personalidade é um constructo amplamente investigado por pesquisadores ao redor de todo o mundo. A teoria mais utilizada nesses estudos é a dos Cinco Grandes Fatores, que está validada em adultos em mais de 150 países. Mas o que dizem os modelos explicativos acerca da personalidade infantil? Quando começamos a nos tornar quem somos?

Brainlly no centro rodeado com tags de competências socioemocionais, escrito abertura, consciência, executivas, jurídica, legislativa, democrática, laica, feeling, de direito, amabilidade autogestão e resiliência
 
A pesquisadora Slobodskaya (2021) descreveu, em sua revisão da literatura, um esboço da estrutura hierárquica da personalidade de crianças e adolescentes. Um dos estudos revisados apontou que a estrutura dos Cinco Grandes Fatores, apesar de diferenças no fator abertura, é similar em adolescentes de 12-14 e 15-17 anos.
 
Outro estudo, baseado no relato familiar, indicou estrutura de dois a três fatores replicável de grupos de 3 a 20 anos de idade. Nesse modelo, o fator geral “ajustamento” é maturado e transforma-se em benevolência e emocionalidade, que por sua vez é bifurcado em emocionalidade positiva e negativa. O sistema expande para quatro fatores em torno de 7 anos de idade. Esse estudo sugere que a base fundamental da personalidade dos 6 aos 19 anos é composta pelos Cinco Grandes Fatores + o fator adicional “atividade”, o padrão é simitar ao estabelecido na literatura para personalidade de adultos. Apesar desta conclusão, estruturas com um, dois e três fatores são mais bem relatadas.
 
A teoria dos Dois Grandes Fatores, por exemplo, é mais consistente em estudos com crianças e adolescentes. O conceito divide a personalidade em alfa, que abarca agradabilidade/amabilidade, conscienciosidade e neuroticismo. e beta, que engloba extroversão e abertura.

Estrutura dos Big Two: alfa e beta, alfa deriva emocionalidade negativa e controle; beta deriva emocionalidade positiva
 
Outras pesquisas sugerem que alguns traços são mais bem desenvolvidos com o envelhecer. Crianças de 3 aos 10 anos tendem a ficarem mais “agradáveis”, com aumento na média de score no fator benevolência e conscienciosidade, consistente com o desenvolvimento de controle e comportamento pró-social. Em contrapartida, também foram evidenciados aumentos de score em neuroticismo e diminuição na autoconfiança. Os achados sugerem que os primeiros anos da infância são marcados por traços do tipo beta, que diminuem gradativamente até o ensino fundamental.
 
Em termos de conectividade cerebral, investigações utilizando fMRI apontam correlaçãos negativa entre atividade da “default mode network” e o traço extroversão e correlação negativa entre a mesma rede e neuroticismo.
 
Knyazev e colaboradores (2017) utilizaram 52 crianças entre 7 e 10 anos para averiguar o desenvolvimento da personalidade ao longo de 2 anos. Os autores hipotetizaram que o desenvolvimento de traços positivos estaria associado ao aumento da atenção voltada ao ambiente, e oposto à tendências egoistas.
O procedimento se deu com o uso de EEG de 64 canais com eletrooculograma acoplado, por 12 minutos de gravação (6 minutos de olhos abertos e 6 minutos de olhos fechados). Os resultados foram comparados com a resposta dos responsáveis ao Inventório Infantil de Diferenças Individuais.
 
Os autores sugerem que os primeiros anos de escolaridade são o período em que ocorre maiores mudanças cognitivas. Em todos os casos, traços como abertura, conscienciosidade, abertura e estabilidade emocional foram associados à diminuição da diferença de atividade entre default mode network e rede executiva central em regiões corticais frontais. É argumentado que mudanças no equilíbrio entre essas duas redes refletem a troca de direção do foco atencional de dentro para fora.
 
Mais estudos são necessários para compreender como e em que momento a personalidade começa a ser formada e como nosso comportamento enquanto crianças pode refletir nossas atitudes na terceira idade.
 
Referências
 
Knyazev, G. G., Savostyanov, A. N., Bocharov, A. V., Slobodskaya, H. R., & Bairova, N. B. Personality and resting state networks in children: A longitudinal EEG study. Personality and Individual Differences, 118, 39–43, 2017. doi:10.1016/j.paid.2017.03.012.
 
Slobodskaya, H. R. Personality development from early childhood through adolescence. Personality and Individual Differences, 172, 110596, 2021. doi:10.1016/j.paid.2020.110596. 
 


Jackson Cionek

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