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Resiliência no método científico: a importância de acreditar nos resultados não esperados


    A resiliência no contexto do método científico é um aspecto crítico que merece atenção detalhada, principalmente ao considerarmos a importância de resultados inesperados na expansão do conhecimento humano. Aqui, vamos explorar a natureza da resiliência científica, o valor dos resultados não esperados e como a comunidade científica deve abraçar tais achados para promover avanços significativos.
 
     O método científico é frequentemente idealizado como um processo linear de hipótese, experimentação e conclusão. No entanto, a realidade é muito mais complexa e frequentemente envolve resultados que desafiam expectativas iniciais. A resiliência, neste contexto, refere-se à capacidade de persistir e adaptar-se diante de resultados adversos ou inesperados, mantendo o rigor científico e a objetividade. Apesar do seu valor, resultados inesperados são frequentemente recebidos com ceticismo. Isso pode ser atribuído a uma variedade de fatores, incluindo o viés de confirmação, onde cientistas favorecem informações que confirmam suas hipóteses pré-existentes, e o efeito da inércia teórica, que descreve a resistência a mudanças nos paradigmas estabelecidos. Nesse contexto, quando uma hipótese científica não pode ser confirmada com seus resultados, muitos cientistas não aceitam seguir novos caminhos a partir do que foi encontrado, e acabam desenvolvendo métodos manipulativos baseada em uma “falsa ideia ou fé” de sua hipótese original. Manipulação de dados estatísticos, alterações de métodos científicos e interpretações errôneas tomam espaço da auto análise crítica, da aceitação das limitações do estudo  e da flexibilidade de novas hipóteses. Acreditar e “ter fé” em suas escolhas metodológicas e hipóteses é imprescindível para desenvolver um projeto experimental do início ao fim. Porém, mais importante do que isso, é olhar para seus dados com imparcialidade e resiliência experimental caso não seja como esperado, para que seja possível se adaptar e mostrar para a academia científica quais os próximos caminhos a serem tomados. A resiliência científica envolve a habilidade de enfrentar resultados não esperados com uma mente aberta e uma disposição para investigar mais a fundo. Isso pode requerer a revisão de hipóteses, a reformulação de experimentos e a busca por novas abordagens teóricas. A resiliência permite que cientistas se adaptem a novos dados, redefinindo o conhecimento existente e, potencialmente, gerando novas teorias.
 
     Resultados não esperados têm sido uma peça importante de inúmeras descobertas científicas. Históricamente, foi a “descoberta acidental” da penicilina por Alexander Fleming, por exemplo, que levou ao desenvolvimento dos antibióticos. Da mesma forma, a descoberta da radiação cósmica de fundo por Penzias e Wilson foi um resultado não antecipado que solidificou o modelo do Big Bang para o início do universo. Ambos os exemplos exigiram resiliência dos pesquisadores envolvidos para que as novas hipóteses se tornassem algo concreto e verdadeiro.  A descoberta dos raios-X por Wilhelm Conrad Röntgen é um outro excelente exemplo de resiliência científica. Röntgen não esperava descobrir uma nova forma de radiação enquanto estudava os efeitos dos tubos catódicos, mas sua abertura para investigar esse fenômeno inesperado levou a um avanço significativo na medicina. Outro exemplo é a descoberta do grafeno por Andre Geim e Konstantin Novoselov, que ocorreu enquanto eles manipulavam fita adesiva e grafite, um processo que poderia ter sido descartado como um simples jogo, mas que levou ao isolamento de um material revolucionário.
 
        Para promover uma cultura de resiliência no método científico, é essencial que instituições de pesquisa e financiadores reconheçam o valor dos resultados não esperados. Isso pode incluir o apoio a projetos de alto risco, o encorajamento da publicação de resultados negativos ou inesperados e a promoção de uma cultura que valoriza a curiosidade e a exploração. Isso pode ser crucial para o avanço do conhecimento. Resultados não esperados têm sido fundamentais para algumas das maiores descobertas da ciência, e a habilidade de responder a esses resultados com flexibilidade e curiosidade é uma característica essencial de um bom cientista.




Referências: 
 
Assonov, Dmytro, and Olena Khaustova. "Development of resilience concept in scientific literature of recent years." Psychosomatic Medicine and General Practice 4.4 (2019): e0404219-e0404219.
 
Linkov, Igor, and Benjamin D. Trump. The science and practice of resilience. Cham: Springer International Publishing, 2019.
 
Resnik, D. B. (2017). The ethics of science: an introduction. Routledge.
 
Frickel, S., Gibbon, S., Howard, J., Kempner, J., Ottinger, G., Hess, D. J., & Kleinman, D. L. (2010). Undone science: charting social movement and civil society challenges to research agenda setting. Science, Technology, & Human Values, 35(4), 444-473.


Lax, E. (2004). The Mold in Dr. Florey's Coat: The Story of the Penicillin Miracle. Henry Holt and Co.
 
Geim, A. K., & Novoselov, K. S. (2007). The rise of graphene. Nature Materials, 6(3), 183-191.
 
Ioannidis, J. P. A. (2012). Why Science Is Not Necessarily Self-Correcting. Perspectives on Psychological Science, 7(6), 645-654.
 
Bozeman, B., & Sarewitz, D. (2011). Public values and public failure in US science policy. Science and Public Policy, 38(8), 585-597.
 


Rodrigo Oliveira

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