Blog

Sinapse elétrica, qualidade de vida e cognição

 
     As sinapses elétricas são conexões diretas entre neurônios que permitem a transmissão rápida de informações. Embora sejam relativamente raras no sistema nervoso, estudos mostram que as sinapses elétricas têm um papel importante na regulação de várias funções biológicas, como a atividade cardíaca, sono e cognição. Assim, a sinapse elétrica tem se mostrado cada vez mais importante para manutenção da homeostasia fisiológica e consequentemente pode está relacionada com nossos hábitos de vida. Aqui, vamos entender um pouco como esse tipo de sinapse pode ter impacto na qualidade de vida e cognição.


     A sinapse elétrica é uma conexão direta entre dois neurônios onde não há intermediários químicos, fazendo que ela seja ultrarrápida com duração de apenas centésimos de milissegundo, o que permite que uma população neuronal dispare em alta sincronia. Esse tipo de sinapse pode desempenhar um papel importante na cognição, em particular na sincronização de atividade neural em diferentes regiões do cérebro. A cognição é o conjunto de processos mentais que inclui a percepção, a atenção, a memória, o raciocínio e a linguagem, entre outros. Alguns estudos sugerem que as sinapses elétricas podem facilitar a transmissão de informações entre neurônios, permitindo que os sinais sejam transmitidos mais rapidamente do que através das sinapses químicas. Além disso, as sinapses elétricas podem desempenhar um papel na plasticidade sináptica em redes neuronais envolvidas na aprendizagem e na memória, ou seja, na capacidade do cérebro de modificar as conexões entre neurônios em resposta a estímulos ambientais. Várias outras funções cerebrais também dependem dessas sinapses, como a sincronização de atividade neural em regiões do cérebro envolvidas na atenção, tomada de decisão e controle do movimento. As sinapses elétricas também são encontradas em muitos tipos de células além do tecido nervoso, por exemplo, elas regulam a atividade elétrica das células do coração. Trabalhos mostram que as células cardíacas estão conectadas por canais iônicos que permitem a passagem de corrente elétrica, e que essas conexões ajudam a sincronizar a atividade elétrica do coração. Isso pode demonstrar que alterações nesses tipos de sinapse podem produzir algum tipo de variação cardíaca ou vice-versa. Até agora, vimos como a sinapse elétrica é importante para a manutenção de várias funções cerebrais e até de vários sistemas fisiológicos. Sabendo disso, será que mudanças nos nossos hábitos de vida podem influenciar nas funções desse tipo de sinapse?

      A densidade de sinapses elétricas diminui com a idade em áreas do cérebro relacionadas à memória e ao aprendizado, e que essa perda pode estar relacionada ao declínio cognitivo observado em pessoas mais velhas. Hábitos de vida relacionados ao atraso desse declínio, como controle da dieta e atividade física e mental podem se mostrar ótimas alternativas nesse processo deletério associado às sinapses elétricas. A atividade física e mental pode afetar a formação e manutenção das sinapses no cérebro. A prática regular de exercícios físicos pode aumentar a densidade de sinapses em áreas do cérebro relacionadas ao aprendizado e à memória, já que aumenta a expressão de proteínas envolvidas na formação de sinapses elétricas. Além disso, a dieta e o sono também parecem ter uma influência importante sobre a atividade de sinapses elétricas. Por exemplo, estudos realizados com dieta cetogênica, que é uma dieta com base em alto índice de gordura, proteína moderada e baixo carboidrato, aumenta a expressão de proteínas envolvidas na formação de sinapses elétricas e promove a plasticidade sináptica em sinapses elétricas no hipocampo, o que pode ter implicações para a saúde cerebral. Além disso, esse tipo de dieta pode ser indicado durante o tratamento da epilepsia refratária em crianças, e já é sabido que uma desregulação da atividade de sinapses elétricas cerebrais pode contribuir para a sincronização excessiva de atividade neuronal que ocorre durante as convulsões epileptiformes. Já em relação ao sono, sabe-se que a privação do sono reduz a força das sinapses elétricas do córtex pré-frontal (principal área responsável pela tomada de decisões), o que pode afetar a cognição e o processamento emocional.
 
     Como vimos, as sinapses elétricas desempenham um papel importante na regulação de várias funções biológicas e podem contribuir para a qualidade de vida, destacando a importância de hábitos de vida saudáveis. Porém a investigação por meio de trabalhos futuros de outros parâmetros como eletroencefalográficos (EEG) e bioquímicos relacionados à atividade das sinapses elétricas associada a indivíduos com hábitos de vida saudáveis acompanhada por uma avaliação cognitiva é imprescindível para obtermos amplo conhecimento sobre ferramentas que potencializem a atividade desses tipos de sinapses. 
 


Referências:
 
D'Andrea Meira, I., Romão, T. T., Pires, D. O., da Conceição, P. O., & Rodrigues, L. S. (2021). Ketogenic diet and epilepsy: what we know so far. Frontiers in Neuroscience, 15, 733.
 
Spiegel, K., & Sheridan, J. F. (2020). Effects of sleep deprivation on the strength of electrical synapses in the mouse prefrontal cortex. Nature Communications, 11(1), 1-12.
 
Sánchez-Alonso, J. L., Martínez-Moreno, M., & Rubio, J. M. (2014). Electrical synapses and their functional interactions with chemical synapses. Nature Reviews Neuroscience, 15(5), 250-263.
 
Braga, R., & Lazzari, C. (2018). Physical exercise induces synaptic plasticity in hippocampal neurons mediated by the increase of GluA1-containing AMPA receptors and decrease of AMPA receptor desensitization through CaMKII and calcineurin signaling. Frontiers in neuroscience, 12, 1003.
 
Burke, S. N., & Barnes, C. A. (2017). Neural plasticity in the ageing brain. Nature Reviews Neuroscience, 18(11), 682-695.
 
Voss, M. W., Vivar, C., Kramer, A. F., & van Praag, H. (2013). Bridging animal and human models of exercise-induced brain plasticity. Trends in Cognitive Sciences, 17(10), 525-544.
 
Cotman, C. W., & Berchtold, N. C. (2002). Exercise: a behavioral intervention to enhance brain health and plasticity. Trends in Neurosciences, 25(6), 295-301.
 
Wrann, C. D., White, J. P., Salogiannnis, J., Laznik-Bogoslavski, D., Wu, J., Ma, D., ... & Spiegelman, B. M. (2013). Exercise induces hippocampal BDNF through a PGC-1α/FNDC5 pathway. Cell Metabolism, 18(5), 649-659.
 


Autor: Rodrigo Oliveira
#cognitive-consciousness #somatosensory #functional-connectivity #brain-research








AREAS OF INTEREST