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Esportes combate, como boxe e MMA, ganharam popularidade nos últimos anos sobretudo pelo seu apelo midiático. Porém, quais os impactos dos golpes sofridos na cabeça por esses lutadores?


O boxe, também conhecido como “nobre arte”, é um esporte de combate olímpico, que tem seus primeiros relados de prática ainda na Grécia antiga. É uma modalidade de grande popularidade e que movimenta a economia mundial na casa do milhões, tanto no âmbito de esporte profissional, quando no campo cinematográfico, a exemplo o emblemático Rocky Balboa e, mais recentemente, Creed. Os socos precisos e imponentes, e as movimentações defensivas velozes chamam a atenção e atraem grande público. Contemporaneamente, outra modalidade tem chamado a atenção dos expectadores de esportes de combate, o Mixed Martial Arts (MMA). Essa modalidade surgiu como “Vale tudo” e ganhou notoriedade e embalo no início da década de 1990, como os desafios entre modalidades que deram origem a empresa Ultimate Fight Championship (UFC). Em linhas gerais, o MMA é uma modalidade que mescla técnica de várias lutas, incluindo socos, chutes, joelhadas, cotoveladas, quedas e finalizações.

De maneira geral, os esportes de combate são também conhecidos como esportes de contato, uma vez que na maioria dos casos é necessário submeter o oponente nocauteando-o, derrubando-o, imobilizando-o ou finalizando-o, e em todas essas situações são necessárias ações de contato direto ao corpo do oponente. Em se tratando de modalidades em que há a possibilidade de finalização precoce da luta, um dos principais alvos é a cabeça, uma vez que golpes em determinadas regiões dessa parte do corpo são capazes de promover um “desligamento” momentâneo do cérebro, levando, por vezes, o lutador a perder a consciência. Pensando-se na rotina de um lutador que passa por situações de combate não somente no dia da sua luta principal, mas também durante o período de treinamento, a frequência de golpes recebidos nessa região, parece ser muito alta. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores conduz uma série de estudos (Professional Fighters Brain Health Study) envolvendo ressonância magnética, testes neurocognitivos e informações do histórico de lutas de atletas de Boxe e MMA, a fim de elucidar os impactos do trauma repetido na cabeça nessa população.

Bernick e colaboradores, avaliou as modificações cerebrais ocorridas em 51 lutadores de boxe e 70 lutadores de MMA (amadores e profissionais), encontrando resultados que mostram que a exposição a luta é preditora de volume cerebral e função cognitiva em lutadores de ambas modalidades.  Semelhantemente, outro estudo, encabeçado por Shin e colaboradores, avaliou 155 lutadores (74 lutadores de boxe e 81 lutadores de MMA) e os achados indicam que o número de nocautes sofridos por lutadores de boxe é um preditor de dano microestrutural no cérebro. Por outro lado, Banks e colaboradores indicam a educação como fator protetivo para a para a integridade funcional dos lutadores. Isso por que, seu estudo que avaliou a associação entre volume cerebral e indicadores cognitivos (n = 144 lutadores), indicou que lutadores com menor escolaridade apresentaram declínio na velocidade psicomotora em relação à exposição à luta. Além disso, esse estudo confirma a indicação de que mais exposições a luta provoca diminuição no volume cerebral.

De maneira geral, a exposição ao trauma cerebral de modo repetitivo e prolongado parece trazer sérios prejuízos ao cérebro, podendo inclusive desencadear em doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer. Futuros estudos devem incluir a analise da hemodinâmica (fNIRS) cerebral em pessoas expostas ao dano cerebral de modo contínuo, bem como a analise de funções executivas, haja vista a importância dessas habilidades cognitivas para a saúde mental. Além disso, o uso de ferramentas de neuromodulação devem ser testadas em pessoas já identificadas com perda de volume cerebral, como atletas de combate aposentados.

Referência:

Shin et al. (2014). Diffusion Measures Indicate Fight Exposure–Related Damage to Cerebral White Matter in Boxers and Mixed Martial Arts Fighters. American Journal of Neuroradiology. Doi: http://dx.doi.org/10.3174/ajnr.A3676

Banks et al. (2014). The Protective Effect of Education on Cognition in Professional Fighters. Archives of Clinical Neuropsychology. doi:10.1093/arclin/act079

Bernick et al. (2013). Professional Fighters Brain Health Study: Rationale and Methods. American Journal of Epidemiology. Doi: 10.1093/aje/kws456





Heloiana Faro

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