O que o videoclipe de 911 da Lady gaga, experiência de quase morte e a neurociência tem em comum?
30/11/2023 at 06:11:23
Author: Rodrigo Oliveira
30/11/2023 at 06:11:23
Author: Rodrigo Oliveira

Então, percebeu o quanto o videoclipe é incrível? Sim, o tempo todo ela estava vivendo uma Experiência de Quase Morte (EQM). A EQM é um estado de morte iminente decorrente de algum evento traumático, como o acidente sofrido por Gaga, ou patológico no qual é relatado experiências sobrenaturais que transcendem os limites do convencionais do tempo e do espaço, um tipo de projeção da consciência. Tais experiências relatadas são como de ouvir o anúncio da própria morte, ausência de dor, sentir estar fora do corpo, envolventes sentimentos de paz, ouvir um ruído, ver e atravessar um túnel com uma luz em seu final, ingressar em alguma outra esfera ou dimensão, encontrar-se com seres não-físicos ou um "ser de luz", incluindo pessoas que já morreram, retornar à vida, ter novas visões da morte e adquirir novos conhecimentos e habilidades não adquiridos por meio da percepção normal. Muitas dessas experiências foram vivenciadas pela Gaga durante sua EQM no videoclipe, sendo representadas na forma artística, claro. Um dos exemplos é o encontro com divindades vindas do céu como "anjos" que a salvam da morte puxando-a pela corda amarrada em um dos seus pés evitando que ela suba aos céus e volte para vida terrena.
Apesar da atribuição sobrenatural e religiosa que geralmente é utilizado para explicação de tais eventos de uma EQM, a respostas de muitos aspectos já podem ser encontradas na literatura científica. Quando o cérebro entra no processo de morte, ocorre uma condição conhecida como isquemia cerebral, na qual a falta de componentes químicos e gasosos leva a uma 'inatividade elétrica completa' no cérebro. Estudos realizados com implantes de microeletrodos em pacientes terminais, constataram que atividade elétrica dos neurônios no cérebro, no momento da morte, tende a diminuir gradativamente no intuito de economizar energia dos neurônios. Também, foi observada uma atividade elétrica de forma "não organizada", como foi observado no lobo temporal, o que pode ter relação com alguns tipos de alucinações específicas encontradas nas EQMs. Além disso, as EQMs têm sido especulativamente atribuídas a vários neurotransmissores no cérebro, mais frequentemente as endorfinas ou outros opióides endógenos (liberados sob estresse como a situação de morte eminente) que pode ter relação com o alívio da dor e sensação de bem-estar. Um modelo mais abrangente sugere que um agente endógeno neuroprotetor similar à quetamina também pode ser liberado nessas condições de estresse, provocando sentimentos de se estar fora do corpo e algumas sensações como se sentir atravessando um túnel escuro em direção à luz, acreditar que morreu ou que está se comunicando com Deus, por exemplo. Sabendo da similaridade de efeitos entre essas substâncias endógenas e algumas substâncias exógenas, alguns trabalhos mostram a utilização de substâncias alucinógenas como dimetiltriptamina (DMT) presente em ervas como a Ayahuasca, como modelo adequado para o uso da simulação de EQMs para estudos de consciência em humanos, já que os mesmos estudos detectaram uma semelhança significativa entre as características fenomenológicas das experiências induzidas pelo DMT e aquelas descritas por pessoas que relataram uma EQM.
A religião e a crença pode ser algo inerente aos seres humanos podendo atuar como uma agente moduladora dos valores morais. Estudos que compararam relatos de EQMs de pessoas de diferentes culturas e religiões sugerem que as crenças culturais prévias têm alguma influência no tipo de experiência que uma pessoa relatará. Logo, indivíduos com a mesma crença tendem a apresentar uma EQM semelhante de acordo com sua percepção de vida após a morte já estabelecida durante sua formação durante a infância. Isso pode ser comprovado pelo fato de que as crianças, que são as menos prováveis de terem desenvolvido expectativas sobre a morte, relataram uma EQM com características similares às dos adultos. Além disso, outros trabalhos sugerem que pessoas que passaram por uma EQM tendem a ser sujeitos facilmente hipnotizáveis, a recordar mais frequentemente seus sonhos e também a reconhecer de forma significativa maior número de traumas vividos na infância do que outros sujeitos da população geral.




