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Muito mais do que atributos físicos, os samurais japoneses desenvolveram habilidades mentais exemplares. Em tempos de quarentena e isolamento, que lições os samurais podem nos ensinar?


Samurais ou Bushi foram soldados da aristocracia imperial japonesa no período feudal. O Samurai seguia um código de honra, denominado Bushidô (Bushi = guerreiro; dô = caminho), ou “Caminho do guerreiro”, que determinava como deveria ser sua postura no dia-a-dia, principalmente pautados códigos de honra e ética. Os samurais seguiam filosofias de valorização da honra, da imagem pública e da coragem, sendo esses valores mais importantes que suas próprias vidas. Por exemplo, o harakiri ou seppuku consistia no suicídio de um samurai após a derrota no campo de batalha ou desonra, ou seja, o samurai preferia morrer à ser desonrado. Nesse sentido, a vida era encarada como um período limitado da existência, e morte seria capaz de perpetuar a existência e honra.

Os Samurais tornaram-se guerreiros marcantes sobretudo pela forma de agir e por seus apegos a honra. Nesse sentido, o treinamento de um samurai não estava meramente ligado ao desenvolvimento de atributos físicos, mas também de habilidades mentais, filosóficos e espirituais. Hanel, no livro “Samurai”, indica que a mente de um samurai deveria ser forte (toughness) e ágil, e que essas habilidades deveriam ser trabalhadas por toda sua vida. Além disso, a utilização de técnicas da disciplina Zen para manter sua mente calma, os fariam controlar a seus medos e desenvolver coragem, que nesse contexto é entendido como sabedoria de ver o vazio do medo. Como um guerreiro que se via defronte a várias batalhas durante a vida, o samurai pouco temia a morte, pois esse medo poderia o fazer lutar inapropriadamente. Na filosofia Zen o ‘medo da morte’ reflete a crença de que a força da morte superou a força da vida.

Em tempos de pandemia, onde o inimigo é invisível a olho nu, tomar como exemplo os atributos mentais, espirituais e sociais dos samurais podem nos fazer enfrentar atual guerra como mais serenidade e racionalidade. Nesse sentido, a American Psychological Association (APA) destaca que a manutenção da saúde mental durante período de isolamento social é fundamental. A grande cobertura midiática, bem como a facilidade de acesso a informações via internet atualmente, podem alavancar sentimentos de angustia, ansiedade e eminencia de morte. Nesse âmbito, o filósofo Heidegger trata da angustia sentida na eminência da morte, por exemplo: “tenho a imunidade baixa, se acometido(a) pela COVID-19, morrerei”. O autor levanta a discussão sobre como encaramos o sentido da vida diante da tomada de consciência da eminência da morte. Nesse momento, força e agilidade mental, calma, autocontrole e coragem são alguns dos atributos mentais que faziam dos samurais guerreiros exemplares e podem contribuir para a compreensão de o sentido da vida é atribuído por cada um, como apontado pelo próprio Heidegger.

Um estudo conduzido por Di Giovanni e colaboradores no período pós-quarentena/isolamento social durante o período epidêmico da SARS-Covid em 2003, na cidade de Toranto/Canadá, revelou ser comum o relato de dificuldades emocionais, como estresse, medo, isolamento, solidão, depressão, insônia, ansiedade e tédio, durante a quarentena. Para tentar superar sensações negativas, foram adotadas estratégias de coping (em português: enfrentamento), como leitura, falar ao telefone, assistir televisão e ouvir música. Essas estratégias foram, inclusive, adotadas para quem estava na linha de frente de combate (médicos e enfermeiros). Nesse sentido, criar formas de fortalecimento mental será crucial para o enfrentamento de toda a sociedade. Tomemos como exemplos os samurais e exercitemos nossas habilidades mentais.

Referências:

Kunen (2012). Understanding Zen Through Martial Practice: Spiritual Attainment in the Martial Arts. SSRN. http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2050305

Hanel (2008). Samurai. Juveline literature. Frist edition.

Di Giovanni et al. (2004). Factors Influencing Compliance with Quarantine in Toronto During the 2003 SARS Outbreak. Biosecurity and Bioterrorism: Biodefense Strategy, Practice, and Science. doi:10.1089/bsp.2004.2.265 

Heidegger (1989). Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá Cavalcanti. Petrópolis: Vozes.

Heidegger (1989) Que é metafisica? Tradução de Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural.



Heloiana Faro

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