Apus – A Propriocepção Estendida do Ser
02/10/2025 at 01:10:58
Author: Jackson Cionek
02/10/2025 at 01:10:58
Author: Jackson Cionek
Consciência em Primeira Pessoa
Sonho Bom de Bem Estar no Agora
As montanhas têm corpo, e o corpo é uma montanha.
Entre os povos andinos, Apus é o espírito que habita as montanhas e mantém o equilíbrio entre o visível e o invisível.
Não é uma divindade fora do homem, mas a presença viva do ambiente que respira dentro dele.
Ser, nesse contexto, é reconhecer que o corpo é também território — uma paisagem sensível que percebe, responde e se transforma junto com o mundo.
A propriocepção é a percepção interna da posição e do movimento do corpo.
Mas o Apus, em sua versão estendida, amplia esse conceito: o corpo não percebe apenas a si mesmo, ele percebe o entorno como parte de si.
A respiração, o vento, o som e a gravidade são fluxos compartilhados — pontes entre o humano e o ambiente.
A montanha não é objeto; é o próprio corpo em repouso geológico.
E o corpo humano, por sua vez, é uma montanha em movimento.
A neurociência moderna começa a descrever, com outros nomes, o que os povos ameríndios sempre souberam.
A interocepção traduz os estados internos; a propriocepção, o movimento e a posição; e ambas, juntas, formam a base da consciência corporificada (Craig, 2023; Damasio, 2021).
Entretanto, o Apus vai além: ele representa a consciência expandida, onde corpo e ambiente são contínuos.
Não existe “fora” — apenas uma variação de densidades da mesma presença.
Quando o mundo fala nos sonhos
Durante o sono, o corpo não se desconecta do território — apenas muda de idioma.
Mesmo dormindo, seguimos em diálogo com o ambiente.
Os sons, os ventos, o gotejar da chuva, o farfalhar das folhas,
todos continuam sendo processados pelo cérebro,
mas traduzidos em símbolos compatíveis com o sonho que estamos sonhando.
Um barulho externo pode tornar-se o passo de um animal,
um trovão pode se converter em um tambor ancestral,
e o som do próprio ronco pode aparecer como um eco distante dentro da floresta onírica.
O mundo físico atravessa o mundo simbólico, e o cérebro,
em seu esforço constante de coerência, insere o ruído externo no cenário interno
(Siclari et al., 2021; Andrillon & Kouider, 2021).
O Apus, então, também é auditivo.
As montanhas respiram com nossos pulmões,
e o território segue enviando sinais mesmo quando os olhos se fecham.
Essa sensibilidade profunda é o que a neurociência contemporânea descreve como
incorporação sensorial durante o sonho,
um fenômeno no qual o sistema nervoso continua monitorando o ambiente
e integrando estímulos externos às narrativas internas do sonho
(Friston, 2022; Hobson & Friston, 2021).
O cérebro, guiado por sua predição ativa,
não ouve o som como ele é,
mas como acredita que ele deveria ser para manter o sonho coerente.
Assim, o corpo dorme — mas continua interpretando o mundo conforme suas crenças.
Esse viés, que une percepção e fé corporal, é a expressão perfeita da nossa frase central:
Percebemos o que acreditamos.
Durante o sonho, a propriocepção estendida se manifesta em plenitude:
as fronteiras entre dentro e fora se dissolvem,
e o território volta a nos ensinar, como sempre fez,
que somos respiração, som e presença do próprio mundo.
O Apus é, portanto, a dimensão sensível da reciprocidade entre corpo e ambiente.
Na biologia, poderíamos chamá-lo de acoplamento estrutural: o modo como organismos e meio se ajustam mutuamente para manter a vida (Maturana & Varela, 2021; Friston, 2022).
Mas, para os povos andinos, esse acoplamento é também espiritual —
a montanha sente, protege, reage, observa.
O humano, por sua vez, é apenas o Apus que aprendeu a mover-se.
Essa consciência expandida dissolve o dualismo entre o interno e o externo,
entre o natural e o sagrado.
O corpo deixa de ser um recipiente da alma para tornar-se um campo de diálogo contínuo com o mundo.
Respirar é conversar com o ambiente; mover-se é redesenhar o território.
A propriocepção estendida é também uma pedagogia:
ensina que a consciência não é algo que temos, mas algo que fazemos com o mundo.
Cada gesto é um acordo com o ambiente; cada pensamento, uma reorganização da paisagem.
Ao caminhar, sentimos o solo; ao respirar, sentimos o ar;
e nesses encontros sutis, a vida se reconhece circulando em nós.
O Apus revela que a inteligência não está confinada ao cérebro,
mas distribuída na relação entre corpo e território.
A montanha, o rio, o vento e a pele formam uma única rede sensível.
A consciência, nesse sentido, é a própria reciprocidade entre o vivo e o ambiente que o sustenta.
Síntese final
O Apus é a percepção viva de que o corpo é o território e o território é corpo.
É o eco entre respiração e vento,
o diálogo entre som e sentido,
a consciência que se reconhece como parte do mundo que a faz existir.
Quando sonhamos, o mundo nos fala;
quando despertamos, continuamos a sonhá-lo em movimento.
Referências Pós-2020 (sem links)
Neurociência da Consciência e do Sono
Siclari, F., et al. (2021). The Neural Correlates of Sensory Incorporation in Dreams. Nature Neuroscience.
Andrillon, T., & Kouider, S. (2021). Perceptual Learning during Sleep: From Dreams to Reality. Trends in Cognitive Sciences.
Noreika, V., et al. (2020). Consciousness of External Stimuli in the Transition to Sleep. Frontiers in Human Neuroscience.
Friston, K. (2022). Active Inference and Dreaming. NeuroImage.
Hobson, J. A., & Friston, K. (2021). Consciousness, Dreams, and Inference: The Self as an Active Model. Philosophical Transactions of the Royal Society B.
Siclari, F., & Tononi, G. (2022). Dreams and the Integrated Information Theory.
Biologia, Complexidade e Corpo-Território
Damasio, A. (2021). Feeling and Knowing.
Craig, A. D. (2023). Homeostatic Emotion and the Neural Basis of Feeling.
Maturana, H., & Varela, F. (2021). Autopoiesis and Cognition – New Edition.
Friston, K. (2022). Active Inference and the Free-Energy Principle.
Deco, G., & Kringelbach, M. (2023). Energy Landscapes of the Brain.
Northoff, G. (2022). Mind, Brain, and the Spatiotemporal Continuum of Consciousness.
Cosmologias e Saberes Ameríndios
Viveiros de Castro, E. (2023). Metafísicas Canibais.
Kopenawa, D., & Albert, B. (2022). A Queda do Céu.
Reichel-Dolmatoff, G. (2021 reprint). Amazonian Cosmos.
Fausto, C. (2020). Feasting on People: Eating and Personhood in Amazonia.
Pereira Jr., A. (2023). Consciência, Informação e a Tríplice Natureza da Realidade.
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