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Entre razões e emoções: como elas influenciam nosso aprendizado

Desde cedo, aprendemos a olhar para a razão e a emoção como fenômenos distintos e bem separados. Pensar na importância de separar o que é racional do que é emocional e compreender que cada processo tem seu papel distinto faz parte do nosso senso comum. Mas será que o nosso cérebro pensa assim também?


Antes de mais nada, vamos definir as duas coisas. Emoção se define como uma reação a um estímulo ambiental que produz experiências subjetivas e alterações neurobiológicas. Do latim emotione, que significa “movimento”, representa, um impulso neural que impele um organismo para ação. Cognição, por sua vez, é definida pelo dicionário Oxford como “ação mental ou processo de adquirir conhecimento ou compreensão através do pensamento, experiência e sentidos”. A partir daqui, já vemos que os dois não são tão antagônicos assim, né?




A suposta divisão entre a razão e emoção no cérebro

Se procurarmos, são inúmeros os conteúdos que dividem o cérebro em um hemisfério esquerdo mais racional, ligado às ciências exatas e naturais, e um lado direito mais emocional e criativo, ligado às artes e humanidades. Nossa sociedade chega ao ponto de dar um maior valor ao pensamento racional em detrimento das emoções, o que acaba levando também, entre outras coisas, a uma noção errônea de que as ciências exatas têm maior valor. Este mito, no entanto, já foi desmentido diversas vezes e baseia-se em uma interpretação equivocada de um estudo de 1961 do Nobel Roger Sperry que fala sobre a lateralização das funções do cérebro. Um trabalho interessantíssimo, por sinal!


Manchete do New York Times, de 1973.


Hoje, sabemos que emoção e razão estão intrinsecamente relacionadas no cérebro. A forma como os diferentes neurônios e regiões do nosso cérebro estão ligados faz com que o processamento de emoções e a cognição se conversem. Para explicar por que isso ocorre, pensemos na seguinte situação:


Imagine um ser humano caçador coletor, vivendo dezenas de milhares de anos atrás em uma selva. Num dado momento, um predador (uma cobra, digamos) se aproxima, ao que ele a percebe e foge para se proteger. Através dessa emoção de medo, o cérebro pode desenvolver uma resposta mais rápida e um comportamento que o faça evitar esbarrar novamente com esses predadores. Desse modo, os animais que conseguem construir uma cognição a partir dessas experiências negativas apresentam maiores chances de sobreviver na natureza, e uma maior ligação entre as emoções e a cognição se mostra vantajosa para a espécie.


Pensando nisso, pesquisadores de educação estudaram a aplicação desse conceito na pedagogia. Eles olharam para um método denominado SEL (do inglês, Social Emotional Learning ou Aprendizado Emocional Social), através do qual os alunos são incentivados e auxiliados a trabalharem suas emoções na sala de aula de modo a alavancar o aprendizado. Como tendemos a dar maior importância para experiências negativas do que positivas (por exemplo no caso do ataque de cobra), experiências ruins na escola podem ser prejudiciais ao aprendizado. A metodologia baseia-se também no fato de sermos capazes de treinar o controle de nossas emoções. Alunos que não têm um bom controle de suas emoções tendem, segundo eles, a ter uma maior dificuldade em conquistar sucesso acadêmico.


Além disso, sabemos que o cérebro tende a descartar, durante o desenvolvimento, ligações que não são frequentemente usadas. Nesse sentido, é importante que as habilidades de controle de emoções sejam frequentemente usadas, o que é uma das premissas do SEL. Alguns estudos usando EEG demonstraram que muitos estímulos, como expressões faciais, são filtradas no córtex pré-frontal em adultos, que é uma região que não está completamente desenvolvida em adolescentes, o que poderia explicar o comportamento menos refreado em jovens. O SEL pode ser particularmente útil se pensarmos nesse caso, já que a adolescência compreende grande parte do tempo que passamos na escola e costuma apresentar bastantes turbulências emocionais.


Os desenvolvimento cerebral tem sido alvo de grandes estudos, inclusive no que diz respeito ao processo educacional. Estudos como este têm surgido para tentar desvendar maneiras mais eficazes de se ensinar as pessoas, inclusive as gerações futuras, e podemos esperar que surjam cada vez mais trabalhos olhando para a atividade cerebral e como ela pode impactar não só a educação, mas também outras áreas da nossa sociedade.

 
Capa: MoMorad / Getty Images


Beatriz Carvalho Frota

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