Grande parte das nossas ações são ENVIESADAS, seja por nossa cultura, religião, cor da pele, idade, crenças ou noção de mundo, porém na grande maioria das vezes, nem percebemos. Isso é devido aos atalho que o nosso cérebro faz ao reagir ao mundo.
O que são vieses cognitivos e como eles influenciam nas nossas vidas?
Podemos definir viés cognitivo como um “erro lógico”, que acontece justo quando o cérebro está processando as informações ligadas às cognições - como o aprendizado, a memória e a linguagem [1]. Eles agem no nosso inconsciente, desarrumando a forma como as informações são processadas [2], portanto, podemos imaginá-los como filtros mentais, ou como óculos diferentes que distorcem o que conhecemos como realidade. Todos somos enviesados devido usarmos esses óculos.
Os vieses também podem ser compreendidos como barreiras invisíveis que afetam de maneira direta nossas decisões, dessa forma, são oriundas de múltiplos fatores como a educação, família, cultura, religião e experiências vividas. Baseado nisso, dispomos de percepções e realizamos julgamentos em relação aos indivíduos e agimos, de maneira automática e NÃO CONSCIENTE, logo, na maioria das vezes nem é percebido por nós [3].
Analisando o cérebro humano, quando nascemos possuímos uma estrutura cerebral relativamente formada, pois nossos neurônios já estão constituídos e posicionados nos devidos locais, porém o que dará continuidade a essa formação é a interação com o meio que estamos inseridos. Vernon Mountcastle [4], em 1957, observou que o neocórtex é constituído por colunas corticais, encarregadas pela identificação de padrões, isto é, uma vez que um padrão é identificado, nosso cérebro já prenuncia possíveis ligações com esse padrão.
Por que o processamento cerebral acontece dessa forma? Vamos analisar. Se o nosso cérebro possuísse um processamento sequencial, de forma que não fosse possível antecipar possíveis padrões, gastaríamos muito tempo e energia para realizar decisões e fazer as tarefas diárias. Então, pra ficar claro, nosso neocórtex prevê aquilo que encontraremos, logo, o processamento inconsciente de informações é importantíssimo, todavia, pode se tornar uma barreira em ocasiões de julgamento e tomada de decisão relacionada a outros indivíduos [3].
Que experimentos podem ser realizados para observar os vieses cognitivos?
Pensando nessa questão, Daniel Kahneman e Amos Tversky [5] (pioneiros na ciência cognitiva que originou as teorias que evidenciam as escolhas irracionais humanas), posicionaram um grupo de alunos diante de uma roleta da sorte. Após girá-la, solicitaram que os estudantes tomassem nota do número indicado pela seta e, em seguida, realizaram a seguinte pergunta: qual o percentual de países africanos que são membros das Nações Unidas?
Logicamente, o número mostrado na roleta não possuía nenhuma relação com as nações do continente na ONU. Contudo, a maior parte dos estudantes respondeu com percentuais próximos ao que observaram na roleta. Esse experimento demonstrou que nossas escolhas se baseiam nas primeiras informações que somos expostos, por isso é difícil afastarmos-nos das primeiras impressões [2, 5].
Existem quantos vieses cognitivos?
Se você for realizar uma busca na internet nesse exato momento, vai encontrar uma enorme quantidade de vieses cognitivos ou vieses inconscientes, como por exemplo viés de ancoragem, disponibilidade, confirmação, apresentação, otimismo, falácia do planejamento, custos irrecuperáveis ou aversão a perdas, etc. Nos próximos blogs irei abordar sobre alguns dos vieses mais relevantes. Contudo, podemos destacar agora cinco [3]:
Viés de Afinidade: tendência de dar uma avaliação melhor para quem ou o que é parecido conosco. Exemplos: questões de gênero, cor da pele, idade, histórias de vida.
Viés de Percepção: tendência de reforçar estereótipos que são definidos por influência da sociedade ou cultura na qual fazemos parte.
Viés Confirmatório: tendência de procurar informações que confirmem as nossas hipóteses iniciais e rejeitamos as que não vão de encontro.
Efeito de halo/auréola: tendência de exibir uma preferência inconsciente com apenas uma informação positiva ou agradável da pessoa, o que nos leva a avaliar positivamente todo o restante das informações.
Efeito de grupo: tendência de seguir o padrão de um grupo. Dessa forma, a pressão que o grupo coloca pode fazer com que todos busquem convergir com a mesma ideia.
Que ações podemos tomar para diminuir nossos vieses?
Não existe uma maneira direta de acabar com os vieses, até porque alguns são primordiais e forma importantes para a evolução do ser humano. Mas podemos elencar algumas atitudes que podem nos auxiliar [3]:
Ter consciência que os vieses existem e fazem parte de quem somos.
Identificar quais são os nossos vieses. Testes de Associação Implícita (ITAs), facilmente encontrados na internet, podem ser utilizados para realizar essa identificação.
Ter a visão DO OUTRO acerca dos nossos vieses. Podemos solicitar que outras pessoas nos indiquem ações ou situações que possamos estar sendo influenciados por nossos vieses.
Interagir com pessoas diferentes do nosso perfil, fora da nossa zona de conforto e que possuam, principalmente, uma outra visão de mundo.
Os vieses cognitivos não são totalmente negativos, pois também trazem benefícios, de modo que facilitam como as informações se processam, mas devemos ficar atentos, porque eles atrapalham a interação com outros seres humanos.
Achamos que sempre estamos certos, mas normalmente estamos com viés.
Referências
[1] VIÉS COGNITIVO: ENTENDA OS FILTROS MENTAIS QUE NOS FAZEM DISTORCER A REALIDADE. https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2019/07/vies-cognitivo-entenda-os-filtros-mentais-que-nos-fazem-distorcer-a-realidade-cjxxitcts00ey01rvwaygo1bm.html
[2] OS VIESES INCONSCIENTES. https://www.masterleader.com.br/vieses-inconscientes/
[3] VIESES COGNITIVOS: POR QUE O SEU CÉREBRO PARECE JOGAR CONTRA VOCÊ. https://maisretorno.com/blog/vieses-cognitivos-seu-cerebro-voce-e-seu-dinheiro [4] MOUNTCASTLE V. B. (1957). Modality and topographic properties of single neurons of cat's somatic sensory cortex. Journal of neurophysiology, 20(4), 408–434. https://doi.org/10.1152/jn.1957.20.4.408
[5] TVERSKY A.; KAHNEMAN D. (1974). Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases. Science, 185(4157). https://doi.org/10.1126/science.185.4157.1124