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Etimologicamente, o termo placebo se origina do latim placeo, que significa agrado ou agradar. Os placebos são medicamentos, dispositivos ou outros tratamentos sem efeito medicinal real e comprovado, mas que, são capazes de normalizar as respostas do nosso organismo. O placebo pode variar de uma pílula clássica de açúcar a implantação de um estimulador cerebral profundo que está desligado. Surpreendente não é mesmo? Mas, então, como isso pode ser possível? TODO SEU POTENCIAL TERAPÊUTICO ESTÁ NO CÉREBRO!!!

"Um dos médicos mais bem-sucedidos que eu já conheci me garantiu que ele usava mais pílulas de pão, gotas de água colorida e pós de cinzas de nogueira do que todos os outros medicamentos juntos". Thomas Jefferson, Carta a Caspar Wistar, 1807.

Para testar sua eficácia geralmente testes clínicos e pesquisas são conduzidas, de modo que, um grupo de participantes recebe o medicamento real, um analgésico por exemplo, ao passo que o outro grupo recebe uma substância inerte, no caso um “placebo”. Porém, ambos os grupos de pessoas acreditam estarem recebendo o medicamento correto. Surpreendentemente, os pacientes que receberam a substância inerte muitas vezes atribuem a ela os efeitos esperados do medicamento em teste. E porque isso seria possível? As pessoas estão imaginando as dores? De forma alguma! Aparentemente, a crença de que está fazendo uso de um medicamento real pode ser o suficiente para causar ativação de sistemas encefálicos causando um alívio à dor, e para isso se dá o nome de efeito placebo. Este, é uma explicação provável para o sucesso de outros tratamentos para a dor, como acupuntura, hipnose, terapias alternativas, receitas caseiras, etc. 





Pesquisas já demonstraram os efeitos promissores do placebo em diversas condições, a saber – dor crônica, síndrome do intestino irritável, depressão, ansiedade, doença de Parkinson, dor do parto, condições urológicas, asma, fadiga relacionada ao câncer, etc. Além disso, alguns resultados interessantes têm sido demonstrados. Por exemplo, alguns estudos relatam que quanto mais caro fosse o medicamento que o paciente acreditava estar consumindo, maior era seu efeito placebo. As pesquisas mostraram que as pessoas não só pensam que estão sentindo menos dor, mas, o cérebro delas, por meio de ressonância magnética funcional (fMRI), e tomografia por emissão de pósitrons (PET), com base em imagens de glicose, dopamina e atividade de opióides; eletro e magnetoencefalografia (EEG e MEG) mostra que realmente ela está sentindo menos dor. 

O mecanismo do efeito placebo ainda está sob investigação. Mas, a possível explicação desse efeito neurofisiológico é que como sabe-se a célula precisa responder a um estímulo externo, e essa resposta é feita por uma série de receptores (proteínas na membrana da célula), e quando esses receptores se conectam a um ligante desencadeiam um efeito interno nessa célula. Todas nossas células respondem de uma maneira equilibrada com seu ligante e seu receptor. Porém, quando o indivíduo está doente, pode-se observar um certo desequilíbrio entre ambos. 

Por isso, tem-se a utilização de fármacos, que atuam para minimizar esses efeitos, fazendo com que essa reposta metabólica se normalize. O interessante é que os fármacos sozinhos são incapazes de promover efeitos, eles precisam se ligar em coisas que já no nosso organismo. Vale destacar que o próprio organismo pode promover seus fármacos, são eles seus “ligantes endógenos”. Acredita-se que no sistema nervoso central (SNC) produz uma série de neurotransmissores que têm influência por toda parte do nosso corpo, essa influência pode atuar no sistema imune, nos receptores e/ou ligantes da célula para que eles possam voltar a sua condição homeostática, sem falar na ação dos neuropeptídeos nesse processo, então, é como se tivessemos nossa própria "farmácia interna".Com isso, percebe-se que o próprio SNC têm essa capacidade de melhora frente a uma alteração celular, claro que não acontece em todas as condições, mas, eles podem atuar dessa forma. Então, o indivíduo acreditando que está em tratamento seu SNC pode induzir a liberação de neurotransmissores, que irão desencadear respostas de melhora.

Então, nem sempre frases consideradas “clichês” como “pensamento positivo atrai coisas positivas” podem ser desconsideradas. Pois, o efeito placebo demonstra que o fato de acreditar na sua curar tem potencial de ativar nossa "farmacia interna" e produzir melhora! A propósito, estudos envolvendo neuroresiliência também podem contribuir com esses entendimentos. 

E ENTÃO, QUANTAS VEZES VOCÊ JÁ ENGANOU O SEU CÉREBRO?


 

REFERÊNCIAS

AGUIAR JUNIOR, Pedro Nazareth; BARRETO, Carmelia Maria Noia; CUBERO, Daniel de Iracema Gomes; GIGLIO, Auro del. The efficacy of placebo for the treatment of cancer-related fatigue: a systematic review and meta-analysis. : a systematic review and meta-analysis. Supportive Care In Cancer, [s.l.], v. 28, n. 4, p. 1755-1764, 13 jul. 2019. Springer Science and Business Media LLC.

ASHAR, Yoni K.; CHANG, Luke J.; WAGER, Tor D. Brain mechanisms of the placebo effect: an affective appraisal account. Annual review of clinical psychology, v. 13, p. 73-98, 2017.

BROMLEY, Lesley. The molecular basis for the placebo effect. Landmark Papers in Pain: Seminal Papers in Pain with Expert Commentaries, p. 41, 2018.

COLLOCA, Luana. The placebo effect in pain therapies. Annual review of pharmacology and toxicology, v. 59, p. 191-211, 2019.

GEUTER, Stephan; KOBAN, Leonie; WAGER, Tor D. The cognitive neuroscience of placebo effects: concepts, predictions, and physiology. Annual Review of Neuroscience, v. 40, p. 167-188, 2017.



Autor: Livia Nascimento Rabelo
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