Dificuldade na leitura infantil
A dificuldade em aprender a ler está presente em muitas crianças, e, muitas vezes também persiste na vida adulta. A limitação na leitura, chamada de dislexia, não está necessariamente associada a algum problema de inteligência, audição, visão, etc. A dislexia pode ser amenizada com a prática, porém, o desempenho não chega a ser o esperado. Sua causa ainda não é muito definida, mas, alguns estudos têm se preocupado em trazer algumas explicações neurofisiológicas para isso. Vamos tentar entender um pouco sobre ela então!!!
A leitura é o processo de tradução de símbolos escritos em uma série de sons. Quando as crianças começam a ler elas precisam usar uma série de decifrações sequenciais de letras para sons, e, com as experiência, conseguem identificar palavras inteiras, depois frases, textos, etc. Isso acontece porque como sabemos, primeiro as crianças aprendem os sons e só posteriormente aprendem a ler. A idade onde a leitura se inicia geralmente está entre 6 ou 7 anos, mas, ainda não é aquela leitura totalmente aperfeiçoada, pois, é com a prática que esse processo vai se se tornando cada vez mais eficiente.
A dificuldade em ler pode estar associada a vários problemas, como - problemas de visão, audição, concentração, inteligência, e a dislexia. Esta, é uma limitação específica da linguagem que se traduz na dificuldade com a aprendizagem da leitura. Ela pode ser percebida através de dificuldades na ordenação e ritmo das palavras, memorização de letras ou grupos de letras e na construção de frases. Essas perturbações, afetam tanto a escrita como a leitura, e, consequentemente, a aprendizagem. A dislexia caracteriza-se por uma perturbação consistente e recorrente no processamento da informação de carácter fonológico. Numa definição mais aprofundada, a The International Dyslexia Association difine-a como “a Dislexia corresponde a uma dificuldade de aprendizagem específica, de origem neurológica, caracterizada por uma dificuldade na correção e/ou fluência na leitura de palavras e uma fraca competência ortográfica, sendo que secundariamente podem surgir dificuldades ao nível da compreensão da leitura”. É importante destacar que embora pessoas com dislexia possuam dificuldades de leitura e ortografia, suas habilidades em outras áreas (como a matemática) geralmente são perfeitamente normais.
Alguns estudos veem procurando entender os mecanismos neurofisiológicos envolvidos com a dislexia, e utilizaram ressonância magnética funcional (fMRI) para registrar a atividade cerebral dos participantes durante um experimento onde eles executavam a mesma tarefa de ouvir sons e determinavam qual deles um tom mais alto. Nesse experimento, quando um mesmo som é apresentado duas vezes para os pacientes, com um curto espaço de tempo entre eles, e os pesquisadores perceberam que a resposta do cérebro à segunda apresentação é menor.
A resposta menor ao segundo som ocorre porque o cérebro ainda se lembra do primeiro som de alguma forma, sendo assim, o primeiro som ainda exerce uma certa influencia no processamento do segundo som, esse processo é chamado de adaptação neural. Em pessoas com dislexia, percebeu-se que o período de memória subconsciente do primeiro som era mais curto. Já a resposta ao segundo som medido no cérebro de pessoas sem dislexia em um intervalo de 10s, era menor, deixando a entender que a memória do primeiro som ainda estava armazenada no cérebro. Ou seja, pessoas com dislexia apresentam uma deterioração mais rápida das memórias sonoras do que as pessoas sem dislexia. Essa diferença na duração da memória foi observada em várias áreas do córtex.
Dessa forma, como sabemos, o principal problema de pessoas com dislexia é a leitura, e pensando no exposto no experimento, como esse problema está relacionado à dificuldade que descobriu-se com a memória de sons? Uma hipótese para isso é que, a rápida deterioração da memória em pessoas com dislexia, torne o acúmulo de conhecimento mais lento, pois, quanto mais estamos expostos a algo, mais melhoramos nosso desempenho, entretanto, nas pessoas com essa limitação a curva de aprendizado para as coisas às quais foram expostas anteriormente é mais lenta. Em resumo, esses estudos sugeriram que a principal dificuldade na dislexia é o uso menos eficiente de conhecimentos prévios sobre estímulos que já foram apresentados, devido a uma deterioração mais rápida da memória desses estímulos.
Referências
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