Inclusão social x tecnologia: estamos preparados para o uso de tecnologias na educação?
01/12/2023 at 05:12:42
Author: Mouhamed
01/12/2023 at 05:12:42
Author: Mouhamed
A tecnologia deve ser aplicada para ajudar o desenvolvimento, tanto na perspectiva individual como na social. Inserida na saúde, lazer, bem estar , a mesma está em crescente ampliação no meio educacional. Até onde isso é benéfico?
Diversos estudos e experiencias demonstram que as tecnologias auxiliam no sistema de aprendizado. Intervenções de texto para fala e caneta inteligente, realidade virtual, neurofeedback e diversas tecnologias assistivas são opções para melhorar o desempenho das crianças na escola, não apenas relacionadas com as notas, mas também no aprendizado de valores sociais.
Principalmente sobre uma visão da neuroeducação, o sistema de aprendizado atual é falho, onde muitas instituições não saem do tradicional, passar matéria no quadro ou slide e o aluno copia! A avaliação realizada é baseada em notas e desempenho do aluno, como aprender a ler, e desconsidera (não generalizando) aspectos como sentimentos, emoções e dificuldades individuais. Muitos defendem o uso das tecnologias de aprendizado, associado a uma nova perspectiva sobre o aprendizado (a neuroeducação), como a solução... E, realmente, esse é o caminho! Mas algumas coisas devem ser levadas em consideração
O uso da tecnologia nas escolas não pode ser uma arma contra a inclusão social?
Um dos pontos chaves da educação, na primeira infância, é fazer com que as crianças aprendam e tenham senso crítico, solidariedade e reflexão social quanto a preconceitos. Crescer em um ambiente que tenha tecnologia pode fazer com que a criança tenha maiores características exploradoras, no qual o uso da ferramenta a seu favor pode fazer com que desenvolva diversas habilidades.
Sabemos que famílias mais pobres não possuem tanta afinidade com a tecnologia, no qual muitos pais nunca tiveram acesso e nem utilizaram um computador, por exemplo. Trabalhos já confirmam que crianças, no qual a família possui menor poder aquisitivo, apresentam mais dificuldade em aprender e até estruturas cerebrais modificadas. Sendo assim, quando inserimos atividades online, uso de tecnologias e computadores e até assistir aulas remotas pelo computador...Não estamos aumentando a diferença de realidades entre uma “criança rica” e uma “criança pobre”?
Fonte: Brasil Escola
É fato que o mercado tende a exigir cada vez mais mão de obra qualificada. As áreas de robótica, eletrônica, inteligência artificial, aprendizado de máquina e setores mais voltados a tecnologia são as profissões do futuro, onde faz-se necessário profissionais que apresentam teoria e prática com equipamentos que auxiliam nesses setores. Também sabemos que fazer com que as crianças cresçam com essa experiencia de “pesquisador e cientista” faz com que ela tenha um aprendizado maior e, assim, possa se inserir de uma forma mais fácil no mercado. Mas ainda tem o aspecto da inclusão social, esse pensamento ainda nos faz deixar de lado, cada vez mais, pessoas com menor aporte financeiro.
Muitas tecnologias de aprendizado não incluem informações suficientes para calcular os efeitos e pré-requisitos para inclusão. Além da visão que as tecnologias devem ser inseridas na educação, devemos considerar alguns fatores: o preparo dos professores em lidar com as ferramentas e associar com a melhor forma de aprendizado, como auxiliar crianças com mais dificuldades no aprendizado (individualidade), como tornar a tecnologia como uma ferramenta motivacional, o que fazer para com que as crianças mais pobres também tenham acesso a isso, etc etc etc... são diversos fatores a serem analisados.
Já parou pra pensar? Quem vai ter maior poder aquisito para a compra desses equipamentos? Escolas particulares! Então, a partir disso, já pode ocorrer a discrepância de ensino que influencia no ingresso na graduação e também na dificuldade em inserir os mais pobres no mercado de trabalho. Já é difícil pessoas que tiveram mais dificuldade (menos recursos financeiros) atingirem cargos elevados e salários mais altos... Será que isso ficará mais difícil ainda?
Vale ressaltar, que essa “reflexão” é baseada em diversas pesquisas que analisam os resultados das tecnologias já propostas no âmbito acadêmico, onde é possivel essas barreiras para inclusão. Com toda certeza, a tecnologia deve SIM ser inserida no aprendizado, junto com a neuroeducação, visto os grandes aspectos positivos que realmente auxiliam no desenvolvimento da criança. Mas, por outro lado, para essa inserção ocorrer de forma consciente e que não cause tantos impactos negativos na sociedade, deve-se fazer um levantamento e maiores estudos sobre a melhor forma de integrar tecnologia e inclusão social, em prol de oferecer o direito de um aprendizado de qualidade para nossas crianças.
E mais, caso isso se torne possível, teremos indivíduos não apenas mais qualificados para o mercado de trabalho, mas também cidadãos mais conscientes, com maiores valores éticos, empatia, solidariedade e respeito.
Referências
Lo, S. L., & Miller, A. L. (2020). Learning behaviors and school engagement: opportunities and challenges with technology in the classroom. In Technology and Adolescent Health (pp. 79-113). Academic Press.
Meyer, M., Adkins, V., Yuan, N., Weeks, H. M., Chang, Y. J., & Radesky, J. (2019). Advertising in young children's apps: a content analysis. Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, 40(1), 32–39.
Lamb, R. L., Annetta, L., Firestone, J., & Etopio, E. (2018). A meta-analysis with examination of moderators of student cognition, affect, and learning outcomes while using serious educational games, serious games, and simulations. Computers in Human Behavior, 80, 158–167.