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Inclusão social x tecnologia: estamos preparados para o uso de tecnologias na educação?

A tecnologia deve ser aplicada para ajudar o desenvolvimento, tanto na perspectiva individual como na social. Inserida na saúde, lazer, bem estar , a mesma está em crescente ampliação no meio educacional. Até onde isso é benéfico?




Diversos estudos e experiencias demonstram que as tecnologias auxiliam no sistema de aprendizado. Intervenções de texto para fala e caneta inteligente, realidade virtual, neurofeedback e diversas tecnologias assistivas são opções para melhorar o desempenho das crianças na escola, não apenas relacionadas com as notas, mas também no aprendizado de valores sociais.

Principalmente sobre uma visão da neuroeducação, o sistema de aprendizado atual é falho, onde muitas instituições não saem do tradicional, passar matéria no quadro ou slide e o aluno copia! A avaliação realizada é baseada em notas e desempenho do aluno, como aprender a ler, e desconsidera (não generalizando) aspectos como sentimentos, emoções e dificuldades individuais. Muitos defendem o uso das tecnologias de aprendizado, associado a uma nova perspectiva sobre o aprendizado (a neuroeducação), como a solução... E, realmente, esse é o caminho! Mas algumas coisas devem ser levadas em consideração

O uso da tecnologia nas escolas não pode ser uma arma contra a inclusão social?

Um dos pontos chaves da educação, na primeira infância, é fazer com que as crianças aprendam e tenham senso crítico, solidariedade e reflexão social quanto a preconceitos. Crescer em um ambiente que tenha tecnologia pode fazer com que a criança tenha maiores características exploradoras, no qual o uso da ferramenta a seu favor pode fazer com que desenvolva diversas habilidades.


Sabemos que famílias mais pobres não possuem tanta afinidade com a tecnologia, no qual muitos pais nunca tiveram acesso e nem utilizaram um computador, por exemplo. Trabalhos já confirmam que crianças, no qual a família possui menor poder aquisitivo, apresentam mais dificuldade em aprender e até estruturas cerebrais modificadas. Sendo assim, quando inserimos atividades online, uso de tecnologias e computadores e até assistir aulas remotas pelo computador...Não estamos aumentando a diferença de realidades entre uma “criança rica” e uma “criança pobre”?

 Fonte: Brasil Escola

É fato que o mercado tende a exigir cada vez mais mão de obra qualificada. As áreas de robótica, eletrônica, inteligência artificial, aprendizado de máquina e setores mais voltados a tecnologia são as profissões do futuro, onde faz-se necessário profissionais que apresentam teoria e prática com equipamentos que auxiliam nesses setores. Também sabemos que fazer com que as crianças cresçam com essa experiencia de “pesquisador e cientista” faz com que ela tenha um aprendizado maior e, assim, possa se inserir de uma forma mais fácil no mercado. Mas ainda tem o aspecto da inclusão social, esse pensamento ainda nos faz deixar de lado, cada vez mais, pessoas com menor aporte financeiro.

Figura: Exemplo de tecnologias que podem ser inseridas na educação ( Lo et. al, 2020)

Muitas tecnologias de aprendizado não incluem informações suficientes para calcular os efeitos e pré-requisitos para inclusão. Além da visão que as tecnologias devem ser inseridas na educação, devemos considerar  alguns fatores: o preparo dos professores em lidar com as ferramentas e associar com a melhor forma de aprendizado, como auxiliar crianças com mais dificuldades no aprendizado (individualidade), como tornar a tecnologia como uma ferramenta motivacional, o que fazer para com que as crianças mais pobres também tenham acesso a isso, etc etc etc... são diversos fatores a serem analisados.

Já parou pra pensar? Quem vai ter maior poder aquisito para a compra desses equipamentos? Escolas particulares! Então, a partir disso, já pode ocorrer a discrepância de ensino que influencia no ingresso na graduação e também na dificuldade em inserir os mais pobres no mercado de trabalho. Já é difícil pessoas que tiveram mais dificuldade (menos recursos financeiros) atingirem cargos elevados e salários mais altos... Será que isso ficará mais difícil ainda?

Vale ressaltar, que essa “reflexão” é baseada em diversas pesquisas que analisam os resultados das tecnologias já propostas no âmbito acadêmico, onde é possivel essas barreiras para inclusão. Com toda certeza, a tecnologia deve SIM ser inserida no aprendizado, junto com a neuroeducação, visto os grandes aspectos positivos que realmente auxiliam no desenvolvimento da criança. Mas, por outro lado, para essa inserção ocorrer de forma consciente e que não cause tantos impactos negativos na sociedade, deve-se fazer um levantamento e maiores estudos sobre a melhor forma de integrar tecnologia e inclusão social, em prol de oferecer o direito de um aprendizado de qualidade para nossas crianças.

E mais, caso isso se torne possível, teremos indivíduos não apenas mais qualificados para o mercado de trabalho, mas também cidadãos mais conscientes, com maiores valores éticos, empatia, solidariedade e respeito.

 

Referências

 Lo, S. L., & Miller, A. L. (2020). Learning behaviors and school engagement: opportunities and challenges with technology in the classroom. In Technology and Adolescent Health (pp. 79-113). Academic Press.

Meyer, M., Adkins, V., Yuan, N., Weeks, H. M., Chang, Y. J., & Radesky, J. (2019). Advertising in young children's apps: a content analysis. Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, 40(1), 32–39.

Lamb, R. L., Annetta, L., Firestone, J., & Etopio, E. (2018). A meta-analysis with examination of moderators of student cognition, affect, and learning outcomes while using serious educational games, serious games, and simulations. Computers in Human Behavior, 80, 158–167.



Mouhamed Zorkot

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